quinta-feira, 11 de abril de 2019

Resenha do livro Dr. Jivago de Boris Pasternak


Olá, amigo(a) internauta!


Apesar desta resenha ser de uma das obras da minha Jornada Literária de 2017, creio que ela merece ser compartilhada, pois creio que foi a obra inspiradora do poema da Copa de 2018: Será na Sibéria. Quem ainda não leu procure-o nas postagens abaixo. 

Por último, nada melhor do que ler este livro extraordinário. Ainda assistir o filme que também é excelente. 

Carlos.

Insta: @escritaseprojetosdecarlospinhe.

fb.com/calberpin.

Esta obra narra saga de Iúri Andreevitch Jivago, ou simplesmente, Dr. Jivago. Na infância o protagonista ficou órfão tanto de mãe quanto de pai. A sua criação ficou aos cuidados de alguns parentes e da família de Antônia que será a sua primeira esposa. 

O protagonista descendia de uma família aristocrática, porém seu pai, um alcoólatra , torrou a fortuna familiar. Suspeitava-se que a maior parte dela havia sido "sugada" por Komarovsky, ex-advogado do pai de Iúri. 

Komarovski também foi o tutor dos negócios do pai de Lara. Com a morte deste último, o advogado continuou a orientar a família da jovem beldade. Contudo, o preço que ele cobrou foi bem caro, pois tornou a jovem órfã em sua amante. 

Lara se viu numa situação muito similar a de muitas mulheres brasileiras vítimas de abuso. Às vezes tais agressões ocorrem por anos a fio. Outra coisa padrão é o silêncio da vítima, por meio da humilhação e pressão. 

No início da Guerra Civil Russa todos os principais personagens jovens deste romance encontravam-se tanto formados na universidade quanto casados. Iúri com Antônia, Lara com Pavel Pavlovicth Antipov. 

Com a deflagração do Conflito toda estrutura social acabou sendo esgarçada e todos os personagens acabam respondendo da sua maneira a esta situação. 

A fome, as epidemias, o medo e as perseguições políticas fustigaram ainda mais as feridas da crise russa. O autor citou a crise de abastecimento, a ponto de aparecerem soluções inusitadas para combater a fome: o uso do painço. 

Agora, a parte mais angustiante para mim na minha primeira leitura foi a viagem para Varikino nos Urais. Lá será o refúgio dos Jivagos. A viagem de trem para mim foi um verdadeiro "martírio" literário. 

Ainda, esse trecho do livro me remeteu ao enredo da lenda grega de Jasão e os argonautas em busca do Velocino de Ouro. Não só pela questão da lonjura mas também pelas barreiras impostas aos viajantes mitológico em busca do Velocino de Ouro. A ponto de me vi questionando mentalmente a todo momento: vai valer todo este esforço? 

Lá em Varikno os Jivagos se estabelecem numa antiga propriedade familiar. Mas a vida lá nos Urais não tem sido tranquila para ninguém, pois a Revolução estava em qualquer cubículo do "continente russo". 

Jivago e sua família tornam-se agricultores. Aí no inverno eles passam o tempo fazendo saraus e leituras de alguns clássicos. Entre eles destaco o Conto de Duas Cidades de Charles Dickens que li em outra oportunidade. 

No romance do escritor inglês é descrito as arguras de um casal que luta para ser feliz em plena Revolução Francesa. Ou seja, o escritor inglês antes de Pasternak já havia aproveitado um contexto revolucionário como pano de fundo literário para uma linda história de amor. 

Quando a questão da fome deixou de ser urgente para a família Jivago, o médico decidi retomar os seus escritos. Para tanto, ele tornou-se assíduo frequentador da biblioteca pública da cidade principal. Ali ele acabou reencontrando o seu grande amor. 

Lara é natural da região e se refugiou por lá para ficar mais perto do seu marido. Este último havia sumido logo após o início da Guerra Civil e havia reaparecido com o codinome Strelnikov e pertencente a um grupo revolucionário. 

Jivago e Lara retomam o romance, porém eles foram separados novamente quando Iúri foi capturado por soldados de um grupo do Exército Verde. Esses agrupamentos historicamente eram formados por desertores tanto pelos Exércitos Vermelho quanto dos Brancos, grupo de antigos monarquistas e aristocratas que lutavam pela restauração do regime monárquico.

Estas informações e outras extraídas novos estudos nos revelam por quais motivos os Verdes são praticamente desconhecidos e compreendidos atualmente. 

Como bem explica MARIE (2017:17) “quando Stalin passou a se ocupar da História, em 1929 - depois de assumir o poder no Partido após liquidar a oposição esquerda “trotkista“ e a oposição buhkariniana - ele apagou a existência dos Verdes em um relato da guerra civil manipulado e maniqueísta, sem nuances. Além disso, definiu Trotski e a maioria dos comandantes do Exército Vermelho (Tukhachevsky, Primakov, Yakir, Vatsetis) como os melhores aliados dos Brancos, ao passo que, na verdade, ele os haviam combatido e vencido"*, 

Após de dois de trabalho coercitivos nessa guerrilha, Iúri foge e retorna a Varikino. Lá passou a viver na clandestinidade e acabou por reencontrar Lara. Ela o informa que os seus familiares foram expulsos para a França. 

Mais uma vez Komarovski aparece para interferir na vida dos amantes. Ele convenceu o casal da loucura de viverem ali e oferece ajuda. Jivago aceitou se separar mais uma vez de Lara, que foi levada pelo advogado. 

Iúri retorna para Moscou após o suicídio de Strelnikov. A cidade ainda não havia se recuperado das feridas da guerra. Jivago viveu na decrepitude tanto mental física também seguem o mesmo padrão sociopolítico. 

Até que mais uma vez ele foi novamente acolhido por outro grupo familiar. Aos poucos ele engraçou com a filha do casal. E com ela Jivago formou mais uma família, diga-se de passagem, desestruturada. Novamente o médico foi apoiado por seus velhos amigos e seu meio irmão para sustentar a sua nova família. 

Após a morte de Jivago, Lara não só ajuda o irmão de Jivago a organizar o legado de Iúri, mas também revelou a ele existência de uma sobrinha dele. Ela era fruto do seu relacionamento com Jivago. Contudo, para a segurança da criança, Lara a encaminhou para o serviço público de adoção. E solicitou a ele que resgate a sua sobrinha. 

O livro termina com o encontro entre tio e sobrinha e a revelação da origem da jovem que desconhecia até então a sua origem.

* Jean-Jacques Marie. História da Guerra Civil Russa (1917-1922). Editora Contexto.